Sou o Luciano.
Habito entre os ventres dos anoiteceres.
Subo à pendura duma fita chamada luzerna.
Não há silêncio duradouro,
a minha imagem esfacela-se entre dois pombos,
dois carros, dois passos entrecruzados.
Ilumina-se a manhã,
adormeço de ventre.
O meu dia entardece,
no começo da noite.
Aí, movo-me como nunca.
Cobertor arrumado, escondido,
lavo-me na velha fonte
(a velhinha cede-me sabão...)
e parto no caminho do devir,
arrepanhando os cêntimos
que me levam à padaria.
Sorrio à calçada,
meu colchão, meu piso,
ouço meu nome:
"Luciano! Luciano!"
e caminho digno,
quase snobe,
entre as travancas da vida,
entre os soslaios da luz enfunilada...
(imagem queimada de tanto ser vista)
NA (obrigatória) - É fácil escrever sobre aqueles de quem temos "pena", assim sentado na minha sala amena, enquanto o vento se alarga lá por fora.
É fácil ter bons sentimentos, olhar os sem-abrigo com um incontido sentimento de impotência.
Dão sempre boa(?) prosa, apelar a um não sei quê que, penso, é de todos nós.
Mas acima de tudo, o que tenho para dar é o meu sentimento de solidariedade (e algo mais) para com aqueles que trabalham para esse gente e que ajudam os que, de facto, querem ser ajudados.
3 Comentários:
"Mas acima de tudo, o que tenho para dar é o meu sentimento de solidariedade".
Só a solidariedade pode salvar o mundo.
Um abraço.
Amo poemas esse então,a solidariedade realmente pode salvar o mundo!
Concordo convosco. A solidariedade "prática" pode salvar mesmo o mundo
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