terça-feira, 20 de junho de 2006

K

Gargalhar!!!

Risos...

Hoje ri-me. Muito. Há colegas meus com quem sempre me rio; e bastante. O Pedro (que ainda me hoje perguntou por novidades no soprodivino), a Sandra, a Susaninha…
É bom rir, soltar aquelas piadas que, sem contexto para os de fora, são indecifráveis (até bem idiotas…). Lutar contra a malfadada “crise” passa também por nos rirmos de nós próprios e dos outros, sem muita malícia ou maldade.
Alguém me disse, há muito tempo (12 anos?) que, como os adultos não podem brincar à apanhada ou escondidas como as crianças, jogam com as palavras. E é giro. Muito.
As palavras “puxam” umas pelas outras, solta-se a timidez, as gargalhadas surgem naturalmente. O riso é um excelente remédio. Enquanto rio, esqueço-me dos problemas, das maçadas, das rotinas corrosivas que minam o meu quotidiano.
Sou professor. De rotinas nem me posso queixar muito. Acabo de dar uma aula a uma turma. Entre 10 e 25 minutos mais tarde, regresso à mesma sala para “dar” a mesma matéria. Só que o “público” é outro, a abordagem diferente. As carinhas com que tinha de me preocupar mais são outras, o modo de traduzir as mesmas ideias diverge também. Alegro-me e zango-me com eles de modos diversos. Talvez nem um actor se possa dar ao mesmo luxo. Afinal são as mesmas deixas, é o mesmo texto.
É também destas vivências que se faz o nosso riso. É errado pensar que os professores se riem das lacunas, dos erros, da ignorância dos alunos. Rimos, isso sim, da expressão desses factores. Não é o facto de um aluno não saber aquilo que já foi explicado, está no livro e foi escrito no caderno. É o modo como são feitas as perguntas, como “eles” exprimem a sua ignorância. Assim, o nosso riso não é uma troça, uma zombaria, uma inferiorização dos miúdos. É símbolo, às vezes, de uma tristeza por vermos que “a mensagem não passou”. Rimos perante a nossa impotência, por não podermos ir mais longe.
No fundo, as gargalhadas que soltamos são o “canto de cisne” pela ignorância que não conseguimos já debelar.
Parece um contra-senso. Rimo-nos (também) da forma de expressão de algo que nos toca todos os dias. Por outro lado, o nosso rir é a catarse dos nossos problemas quotidianos.
Em que ficamos? Rimo-nos de nós, acima de tudo.


Será pecado?

3 Comentários:

Blogger ProfessorGeolouco disse...

Gostei do escreveste caro Gil.
Mas não te esqueças daquelas vezes que sublimamos com lágrimas.

terça-feira, 20 junho, 2006  
Blogger Pedro_Nunes_no_Mundo disse...

Riamo-nos. De preferência com os outros.

É um sinal de vitalidade, de perspectiva da vida, de resistência, de cumplicidade, de pausa (a pausa, sempre a pausa...).

E ainda bem que mais nos ficam as memórias do riso do ano lectivo que as das mágoas coleccionadas.
Não foi mau de todo...

quarta-feira, 21 junho, 2006  
Anonymous Anónimo disse...

E se eu lhe dissesse que foi meu professor? ;0) Não, não foi. gostei de me rir com o texto... e o contexto... ;0)

terça-feira, 29 janeiro, 2008  

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"[...] Apesar de tudo o que se passa à nossa volta, sou optimista até ao fim. Não digo como Kant que o Bem sairá vitorioso no outro mundo. O Bem é uma vitória que se alcança todos os dias. Até pode ser que o Mal seja mais fraco do que imaginamos. À nossa frente está uma prova indelével: se a vitória não estivesse sempre do lado do Bem, como é que hordas de massas humanas teriam enfrentado monstros e insectos, desastres naturais, medo e egoísmo, para crescerem e se multiplicarem? Não teriam sido capazes de formar nações, de se excederem em criatividade e invenção, de conquistar o espaço e de declarar os direitos humanos. A verdade é que o Mal é muito mais barulhento e tumultuoso, e que o homem se lembra mais da dor do que do prazer."

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