terça-feira, 16 de maio de 2006

K

Uma criança...

“Uma criança que não brinca será um adulto infeliz…”



A Ministra da Educação continua a opinar (e a legislar) de uma forma quase verborreica.
Agora são as celebérrimas aulas de substituição (eufemisticamente designadas por Ocupação dos Tempos Escolares; assim esses tempos não poderão ser contados como horas extraordinárias… fantástica “finta” à lei…). A prof. Maria de Lurdes Rodrigues considera que um docente que planeie faltar às aulas (consulta médica, exames de diagnóstico, etc.), deve deixar uma aula preparada para o colega que o vai substituir, sob pena de incorrer em falta injustificada. A ideia subjacente até faz sentido: os alunos continuariam o seu trabalho sem prejuízo da falta do seu professor. Imaginemos, no entanto, que o meu colega que me vai substituir nem sequer é da minha área (eu sou prof. de Físico-Químicas e, por exemplo, o meu colega lecciona Francês). Entrega a ficha aos alunos, tem as respostas, e surgem dúvidas na resolução; aí começam a aflorar os problemas… Falo por experiência própria: às minhas colegas que leccionam Estudo Acompanhado, entrego fichas que, invariavelmente, suscitam dúvidas; só nas minhas aulas é que são resolvidas.
Já houve mentes brilhantes neste país que consideraram que qualquer professor deve de estar preparado para leccionar qualquer matéria de qualquer disciplina; afinal trata-se um pouco de cultura geral: um prof. de Matemática deve falar inglês, um prof. de Filosofia deve saber dar uma aula de Física, e por aí fora. Quem assim se manifesta, tem uma ideia completamente fútil e irresponsável sobre o que é o Ensino e o mister de ensinar.
Em relação às aulas de substituição tenho uma maneira muito minha de pensar. Os alunos entram nas aulas às 9 horas da manhã e, o mais cedo que saem da escola, é às 4 das tarde. Agora que chegou a primavera/verão, levo os alunos para fora da sala de aula: jogar à bola, conversar…; claro, tudo sobre o meu campo de visão (sou assim uma espécie de guardião dos alunos e substituo-me ao trabalho das funcionárias, quero lá saber!). Excepções? Se houver trabalhos de casa, se necessitarem de estudar para um teste… Aliás, é sempre a primeira pergunta que lhes faço: quase sempre me respondem que nada têm para fazer. Assim, os 90 minutos de substituição tornam-se num “semi-furo”. Como dizia um colega meu: “Onde está agora a alegria do furo?”. Na minha escola praticamente não há clubes (os professores que não foram contratados fariam aí muita falta), assim mantenho a minha maneira muito própria de estar numa aula de substituição. Talvez um dia alguém do Conselho Executivo me proíba esta forma de realizar o meu trabalho, mas até lá…


“E as crianças, Deus meu?”

2 Comentários:

Blogger Quid Iuris? disse...

Cá pra mim, o governo, na pessoa da senhora ministra, tem a mesma posiçao com as crianças k tem com os adultos.
o país está em crise.
todos temos que contribuir e trabalhar mais, durante mais tempo e com mais afinco.
as crianças também.
é que assim habituam-se logo ao ritmo que vão ter quando trabalharem em adultos e já nao se queixam de exploração e coisas que tais...porque o trabalho edifica o homem...
e para isso, o governo, na pessoa da senhora ministra, conta com a conivência dos pais que estão mais que felizes de se verem livres das suas pestinhas de fabrico caseiro, deixando a responsabilidade nas mãos dos professores, e dos funcionários das escolas que , muitas vezes, nao têm quaisquer qualificações para tal.
o que faz com que as personalidades destas crianças enjauladas o dia todo entre as grades da escola, não fique completa e permanentemente depauperada, é aquele pequenino grupo de professores que ainda tem amor à camisola e lhes ensina a brincar, quando há tempo.
mas isto sou só eu a dizer...

terça-feira, 16 maio, 2006  
Blogger Pedro_Nunes_no_Mundo disse...

O meu medo são dois.

Primeiro, exactamente o mesmo que o teu.
Segundo, por desconfiança que a idade traz, receio bem que as crianças-jovens-adultos a que te reportas venham a ser os melhores exemplos de vidas de brincadeira. Sem regras, propósitos ou triunfos.

...E que eu esteja, pela minha inacção, a contribuir para isso.

quinta-feira, 08 junho, 2006  

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"[...] Apesar de tudo o que se passa à nossa volta, sou optimista até ao fim. Não digo como Kant que o Bem sairá vitorioso no outro mundo. O Bem é uma vitória que se alcança todos os dias. Até pode ser que o Mal seja mais fraco do que imaginamos. À nossa frente está uma prova indelével: se a vitória não estivesse sempre do lado do Bem, como é que hordas de massas humanas teriam enfrentado monstros e insectos, desastres naturais, medo e egoísmo, para crescerem e se multiplicarem? Não teriam sido capazes de formar nações, de se excederem em criatividade e invenção, de conquistar o espaço e de declarar os direitos humanos. A verdade é que o Mal é muito mais barulhento e tumultuoso, e que o homem se lembra mais da dor do que do prazer."

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