sexta-feira, 17 de março de 2006

K

A exposição de quem governa

Li, há tempos, que as mudanças nas cadeiras do poder poucas melhorias irão provocar no estado das coisas, enquanto a massa anónima não evoluir de "per si".
O articulista quase que quer insinuar que "temos os políticos que merecemos". Infelizmente, o portuguesinho recebeu do leite materno os esquemazinhos, os dinheiritos por debaixo da mesa, o fechar os olhos quando convém, a espalhar o lixo por onde "porque agora tudo é biodegradável" (como se ele soubesse o que é a biodegradabilidade...), o escarro no chão; tantas coisas que ao europeu médio provocarão suores frios.
Não é com esta incivilidade que o país avança, não é com economias paralelas que valem milhões e nada contribuem para o Estado, não é com a nossa "chico-espertice" que sequer dobraremos a esquina para ir vender alfinetes a Badajoz...
A responsabilidade é nossa; e Sicrano do X ou Beltrano do partido Y não terão grande margem de manobra para as famosas "reformas estruturais" que nos são prometidas desde há não sei quantas legislaturas.
Miguel Esteves Cardoso escreveu, num momento de inspiração, que "em Portugal, nada se consegue, mas tudo se arranja." Já agora, sacudamos esta preguiçazinha que nos ensombra e "arranjemos maneiras de todos sermos mais civilizados, mais honestos e, já agora, um pouco altruístas.
Olhem que este "arranjinho" não nos ficaria nada mal.

2 Comentários:

Blogger Quid Iuris? disse...

Ora boas!
Li a provocação, embora ela seja muito mais exclamação poética, quase sebastiânica.
Eu acho que os portugueses têm como bem mais precioso a passar para os filhos em herança o chico-espertismo. As primeiras lições de vida de um pai para o filho são sempre viradas para o "faz assim e vais ver que te consegues safar".
Começa logo com o fazer cara de mau para a prof do infantário, "pra ela ver que não somos de brincadeiras". Depois o arranjar atestados de baixa para ir passar uns dias à terra com a família. Depois o chegar todos os dias 5 minutos mais cedo e, discretamente, sair pra tomar um cafezinho e voltar só meia hora depois.
Ulmtiamente o chico-espertismo atinge proporções tão fantásticas que já ninguém acha estranho. Estranho mesmo é alguém não aproveitar. É parvo! É tótó! Não tem esperteza. Nunca vai ser alguém na vida.
Querem um bom exemplo de chico-espertismo? É que há tantos casos em Portugal, que até se torna difícil escolher um exemplar...temos os sacos azuis, temos sobrinhos helvéticos, temos escutas, temos tudo. Ah, que orgulho! Mas vejamos um exemplo...
Um senhor da nossa vida pública (cujo nome não vou revelar) foi apanhado em falta profissional. Ele disse que não sabia de nada. Mandou abrir um inquérito. Apurou-se que a culpa havia sido cometida por um subordinado. Não se soube bem quem. Despediu-se a secretária. Ninguém mais falou no assunto. Se isto não é chico-espertismo ao mais alto nível...ora meus amigos, não sei o que será.
Mas o chico-espertismo tem uma característica muito importante. É que para cada chico-esperto, que engana, que faz trapaça, tem que haver uma vítima, que aguenta, que se cala, que deixa andar porque não vale a pena a gente se chatear por coisas pequenas. Isso também é ser português. E toda a nossa História se divide nesses dois períodos. Ora somos espertalhões e enganamos toda a gente, ora somos vítimas dos outros que nos enganam e aguentamos calados e quietinhos.
Fomos ao Brasil, enganando os espanhóis e as coroas europeias com o nosso chico espertismo.
Estamos no Iraque e no Afeganistão, aguentando o senhor Bush, com o nosso mais encantador ar de vítimas indefesas do boolyismo das superpotências.
Enganar ou ser enganado...será essa a questão?

segunda-feira, 20 março, 2006  
Blogger Jaime A. disse...

Pois é. A nossa "esperteza" é -nos inculcada e, quem sabe, de raiz profundamente genética.
Na citação do autor que deu origem a este texto,diz-se que, com esta massa humana, Portugal não irá longe. Não, não irá.
Mas já agora, deixem-me meter a "foice em seara alheia": a maior potência planetária insiste em fazer o que entende em nome de si própria: nem sequer se dá ao trabalho de assinar os protocolos de Quioto (para não ter de se dar ao trabalho de os não cumprir), vai semeando guerras a seu bel-prazer ("obrigando" os os seus aliados que, por dever de "dívida", a acompanhá-la nos seus heróicos actos em que acaba por ficar atolada - já ouviram falar no Vietname?). Sinceramente, não tenho algum ideário político que ma "assanhe" contra a política externa dos Estados-Unidos, mas o que é demais também cansa.

quinta-feira, 23 março, 2006  

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"[...] Apesar de tudo o que se passa à nossa volta, sou optimista até ao fim. Não digo como Kant que o Bem sairá vitorioso no outro mundo. O Bem é uma vitória que se alcança todos os dias. Até pode ser que o Mal seja mais fraco do que imaginamos. À nossa frente está uma prova indelével: se a vitória não estivesse sempre do lado do Bem, como é que hordas de massas humanas teriam enfrentado monstros e insectos, desastres naturais, medo e egoísmo, para crescerem e se multiplicarem? Não teriam sido capazes de formar nações, de se excederem em criatividade e invenção, de conquistar o espaço e de declarar os direitos humanos. A verdade é que o Mal é muito mais barulhento e tumultuoso, e que o homem se lembra mais da dor do que do prazer."

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