Dizer um poema é orar; todos os poetas são abençoados por Deus. (adapt. de Rosa Lobato de Faria)
quarta-feira, 6 de fevereiro de 2019
K
David e Urias
Subindo pelos prados,
arrastavas os ramos,
rastejavas pelas raízes,
bebias um súbito orvalho que a terra dispensava. Eram os tempos do solstício, das noites magníficas, obscuras como as palavras que nem soletravas, monólogos transgéneros que mantinhas com a Lua Nova. Não esperes pelas horas da manhã ou pelo sorriso presunçoso dos pássaros. Agarra os instantes como se fossem os frutos da Árvore da Ciência do Bem e do Mal; e, então, a terra generosa como David para com Urias, te trará fogo, e traição, e morte e tu finalmente repousarás a cabeça naquele orvalho que bebias no inicio deste poema...
"[...] Apesar de tudo o que se passa à nossa volta, sou optimista até ao fim. Não digo como Kant que o Bem sairá vitorioso no outro mundo. O Bem é uma vitória que se alcança todos os dias. Até pode ser que o Mal seja mais fraco do que imaginamos. À nossa frente está uma prova indelével: se a vitória não estivesse sempre do lado do Bem, como é que hordas de massas humanas teriam enfrentado monstros e insectos, desastres naturais, medo e egoísmo, para crescerem e se multiplicarem? Não teriam sido capazes de formar nações, de se excederem em criatividade e invenção, de conquistar o espaço e de declarar os direitos humanos. A verdade é que o Mal é muito mais barulhento e tumultuoso, e que o homem se lembra mais da dor do que do prazer."
Naguib Mahfouz, romancista egípcio, na mensagem que enviou, em 1988, à Academia Real Sueca a agradecer o Prémio Nobel da Literatura, o único a ser atribuído até à data, a um escritor árabe
(cit. em "Dicionário do Islão", Margarida Lopes, ed. Notícias)
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