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quinta-feira, 6 de julho de 2006

A um navegante

In memoriam
Fernão Mendes Pinto

Sentado no molhe,
um marinheiro
a quem o mar já não chama.
Um horizonte carregado
de alma,
de sonho
e memória.
No bolso,
um papel dobrado:

Onde
Caibo?
Este
Atlântico
Não me
Ouve.

Chove;
as águas mergulham
sobre si mesmas.
Correntezas antigas
flúem nas lembranças
que já não vêm…
Gritos abafados de gaivotas
levam consigo
velhos pergaminhos
há muito esquecidos…

4 comentários:

  1. Como num truque de ilusionismo,...um papel permanece dobrado no bolso.
    Será que até mesmo a natureza das coisas pode encontrar-se suspensa do seu fim?

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  2. O CAIS DO HOMEM CINZENTO

    Ao princípio, era apenas o chamamento cadenciado e repetido do mar-rio.
    Na terra de gaivotas, os pombos e os pardais também pousavam.
    De cada vez que a água, no seu vai vem, queria tocar-lhes, recuavam uns passos.
    Passos?
    Os olhos vão abarcando lonjuras.
    Mas perto, um homem cinzento confunde-se com a sépia do cais velho, ferrugento.
    Confunde-se,
    faz parte desse cais
    e não quer ser acordado desse sonho-viagem,
    suponho que diário.
    Os barcos conhecem-no bem.
    Não o acordam.
    E ele, de tanto se confundir,
    é já o cais onde chegam e partem ilusões.

    (mas as gaivotas roubaram do seu bolso
    "os velhos pergaminhos" que não mais serão esquecidos...)

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  3. "...Onde
    Caibo?
    Este
    Atlântico
    Não me
    Ouve."

    Posso postar este poema? Gostei muito dele...

    Um abraço e bom fim de semana, especialmente junto ao mar... ;)

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  4. A Poesia Portuguesa disse tudo!

    Há coisas que só admitem a unanimidade!

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