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sábado, 21 de agosto de 2010

palavras

Se as minhas mãos debulharem as palavras,
espera pelo Outono,
pelos rastos, restos das folhagens,
rojando-se pela terra dormente no seu sonho cavo.
Chegará, então, o tempo da sementeira,
e, logo por entre as papoilas,
as minhas renovadas mãos debulharão
as novas palavras
que os ventos, os pássaros, os arco-íris, as nuvens,
hão-de derramar
- pelas bocas ávidas:
nos campos
de concentração da vergonha;
- pelas bocas ávidas:
das fomes gritadas
nas ruas "cosmopolitas";
- pelas bocas ávidas: 
dos atropelados-desprezados
da "Sociedade".

Na fúria da paisagem rasgada de poentes,
ecoando ao longe o brincar dos meninos,
as minhas pobres mãos
agarram e urdem 
as últimas estrofes,
os últimos andamentos
de um hino-marcha
que arrasta consigo o pó
de quem se não quis vencido.

(fonte da imagem:



6 comentários:

  1. Continuo a gostar de te ler! Beijos.

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  2. Palavras que cavam em busca da raiz de um tempo vencedor.

    Um beijo

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  3. Jaime, um poema, com vida, com lucidez, Palmo a palmo a palmo distorcendo a imagem das razões que tudo justificam. Um poema de quem não aceita os hábitos de forma pacífica.

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  4. "Se as minhas mãos debulharem as palavras,
    espera pelo Outono,
    (...)
    Na fúria da paisagem rasgada de poentes,
    (...)
    que arrasta consigo o pó
    de quem se não quis vencido."

    Fica apenas o meu registo de que há poemas que nao conseguimos comentar sob pena de lhes retirar a essência e até a beleza. Gostei muito.

    Abraço

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  5. Espero que não te importes que tenha levado comigo este poema para o CPV.
    Um abraço

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