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sexta-feira, 21 de dezembro de 2007

(???)


Tão perto

e o outro

vai-se esfumando,

a memória

já não lhe toca.

Há outros cheiros,

há outras cores nos ares;

olhos vidrados no nada,

pendurados em ninguém,

presos aos olhos

de quem passa,

silenciosos

revirando o chão.

Amor é nada,

vai,

deixa, deixa o obscuro gosto,

da ausência;

amor é nada,

deixa o travo da espera,

do frio nos braços

entrelaçados

em si.

Amar,

é amar o que não foi,

a fantasia,

o querer,

querer que o outro

fosse o que não era.

O amor sempre partiu,

numa fuga

infame.

(...)

Amor?

Melhor o frio

sem memória...
(a partir de um pensamento de blindness)
(Fotografia de J.N.)

6 comentários:

  1. O amor, quando não é obcessão, deixa uma lembrança quente... por vezes essa lembrança pode apertar ligeiramente o coração, mas se fosse assim tão mau já viviamos de portas fechadas para o mundo há muito...

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  2. Querida blindness:

    O amor até pode acabar "por acabar", deixar uma lembrança que se esfuma; outras relações, por serem menos "exclusivistas", tenderão a perdurar mais. Na sua volatilidade e posse é que o amor se perde. Que achas?
    Beijos

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  3. Mas quem somos nós se, num qualquer momento da nossa vida, não tivémos alguém que nos achasse seu e a quem nós achámos nosso?

    Essa exclusividade... esse é o fim, as relações não devem ser exclusivas, não podemos ser exclusivamente filhos, irmãos, namorados, a nossa vida é um interlaçado de relações, umas mais próximas que outras mas nenhuma delas deve ser exclusiva, somos afinal de contas um ser social, sedento de relações com os outros...

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  4. Penso que esse é o toque a finados do amor: "tu és meu, tu és minha". Não pertencemos a ninguém e quem se lembra disso? Na sofreguidão do amor, a "propriedade" causa mazelas profundas, porque não sabemos mover-nos na liberdade que é nossa, por dever desta relação. Que resta então? Não sei.

    PS - adoro os teus comentários. Incentivam-me à descoberta da palavra, da ideia.
    És sempre muito bem-vinda.
    Um beijinho

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  5. ai o amor...tanto ja se disse e tão pouco fertilizou.
    Bonito...parabens!

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  6. O amor só fertiliza quando realmente existe. E isso quando será?
    Grato pela tua visita e comentário.

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