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terça-feira, 13 de fevereiro de 2007

Partida

Lentamente,
ia-se consumindo.
Não tinha dores já.
Enrolava-se
sobre si própria,
a parede a esboroar-se,
do outro lado
o soalho
em vigas esburacadas;
A vida esvaía-se,
numa solidão morna.
Nem ousava olhar para cima;
Deus talvez a mirasse,
piedoso,
as mãos expectantes,
por entre as fendas do tecto.
Esperava passiva
que tudo se consumasse;
mas a dor,
aquela dor final
por que ansiava,
não irrompia nela.
(...)
Recordou-se então:
abriu os braços,
o queixo sobre o peito;
e nesse crucifixo,
assim partiu...

4 comentários:

  1. Partir
    acto solitário
    de busca
    de mãos
    de mães
    de dor sem dor
    na posição fetal
    ou noutra
    partir de si
    partir...

    Um beijo

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  2. A nossa obsessão por partir...
    Porque será?

    Mais que partir dali, "partir de si"? como dizia ali em cima a Helena?

    Como é possível não nos conjugarmos connosco? Com quem mais tempo passamos, com quem melhor conhecemos?

    Seremos demasiado exigentes com nós mesmos? Desagradar-nos-á conhecer tão visceralmente (ou tão monotonamente) alguém?

    Partir para onde sem nós?...

    Mera poesia.

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  3. (Há coisas do camandro!
    Por mais que releia este texto, a minha primeira leitura do último verso é sempre "assim pariu...".
    Achas isto normal?)

    :)

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  4. Talvez "partir" e "parir" não estejam assim tão afastados; o chegar e o partir: os extremos tocam-se.
    (Mas que há coisas do camandro, lá isso há...).

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